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Br / Suspensão Voluntária da Descrença

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"O que realmente acontece é que um criador de histórias se mostra um excelente "subcriador". Ele cria um Mundo Secundário no qual sua mente pode entrar. Dentro dele, o que ele relata é o que é "verdadeiro"; está de acordo com as leis daquele mundo. Você, portanto, acredita nisso, enquanto você está, por assim dizer, dentro deste mundo. No momento em que surge a descrença, o encanto se quebra; a magia, ou melhor, a arte, falhou. Você está então no Mundo Primário de volta, olhando daqui do lado de fora para o pequeno e abortado Mundo Secundário."
J. R. R. Tolkien, Sobre Historias De Fadas

Samuel Taylor Coleridge, poeta e autor, definiu o drama como "aquela suspensão voluntária da descrença naquele dado momento, que constitui a fé poética..."

Qualquer esforço criativo — e certamente qualquer esforço criativo escrito — só é bem-sucedido na medida em que o público oferece uma suspensão voluntária de descrença enquanto lê, ouve ou assiste. É parte de um contrato não-falado: o escritor fornece ao leitor/espectador/jogador uma boa história e, em troca, estes aceitam a realidade da história como ela os é apresentada e aceitam que os personagens do universo ficcional agem por conta própria.

Em outras palavras, a obra de um autor não precisa necessariamente ser realista. Ela só precisa ser crível e internamente consistente (e até mesmo este último requisito pode ser aliviado até certo ponto). Quando o autor força a barra do público até além do que eles estão dispostos a aceitar, o trabalho falha aos olhos desse público em particular. Os espectadores geralmente estão dispostos a concordar com explicações criativas para as coisas, e é por isso que as pessoas não criticam seu sistema de viagem de buraco de minhoca mais rápido que a luz ou se perguntam como uma Poção Para Encolher não viola as leis da conservação da matéria, mas mesmo nos gêneros mais fantásticos, a suspensão da descrença pode ser quebrada quando uma obra quebra suas próprias leis estabelecidas ou pede ao seu público que suporte um aglomerado de coisas que parecem artificiais ou fantasiosas demais. Uma forma comum de colocar isso é "Você pode pedir ao público que acredite no impossível, mas não no improvável". Por exemplo, as pessoas aceitarão que o Grande Feiticeiro pode usar um feitiço mágico para se teletransportar pelo mundo, ou que a nave espacial tem tecnologia que a torna completamente invisível sem simultaneamente tornar seus próprios sensores inutilizáveis. Mas o público não vai aceitar que o carnívoro feroz acabou de ter um ataque cardíaco e morreu logo antes de ter matado o personagem principal, ou que o hacker adivinhou a senha de seu inimigo na primeira tentativa apenas digitando letras aleatórias. Sem algum detalhe prévio justificando ou uma das Regras listadas abaixo entrar em jogo, o público vai reclamar, e sua suspensão de descrença estará agora bem no topo de sua mente. O que é impossível na Vida Real apenas tem que se tornar normal no setting e manter-se consistente para que o público o aceite.

Para colocar em termos leigos: todas as histórias são inventadas por sua própria natureza, (já que o escritor tem que mover os personagens do ponto A para os pontos B, C, D e assim por diante ), mas as histórias só podem manter a suspensão da descrença dos espectadores na medida em que os artifícios parecem justificados no universo da história. Histórias quebram a suspensão de descrença dos espectadores quando os artifícios começam a sentir-se forçados na história pelo escritor.

É claro que pessoas diferentes terão limiares diferentes do que estão dispostas a aceitar em uma obra, e o que pode quebrar a suspensão voluntária da descrença de uma pessoa pode não necessariamente ter o mesmo efeito em outra.

A maioria dos filmes de ação empurram esse tropo quase ao ponto de ruptura; pelo bem da ação, os heróis podem fazer virtualmente qualquer coisa, dado que haja Coisonium o suficiente.

Como sempre, as várias Regras substituem quase todas as outras considerações. Quando a descrença do público, que foi suspensa durante o show, é restabelecida algum tempo depois, o que você tem é Lógica de Geladeira. Quando os meios de "consertar" o Plot Hole acabam piorando e/ou criando um "novo" plothole, esse é um fenômeno conhecido como Tubarao Voodoo.

Este tropo remonta pelo menos até William Shakespeare e Henry V, em que o narrador atua diretamente com o público para "trabalhar em suas forças imaginárias" a fim de aceitar alguns atores correndo ao redor de um palco como reis e príncipes e a batalha de Agincourt. O Mantra MST3K é um estímulo para restabelecer sua Suspensão Voluntária da Descrença mesmo que tenha sido quebrada, porque "é apenas um show". Da mesma forma, a Máxima de Bellisario chama o público para restabelecer sua Suspensão Voluntária da Descrença de forma a apenas "ignorar" quaisquer Plot Holes ou outras inconsistências que a tenham quebrado, ou que essas coisas realmente não são tão importantes assim como o espectadores podem pensar.

Quando uma história verdadeira é tão bizarra e/ou exagerada que apenas sua veracidade permite uma Suspensão Voluntária da Descrença, isso é Realidade É Irrealista.

Veja também:

  • Abrindo Uma Lata De Clones: Outra consequência de violar a suspensão da descrença é que pode fazer com que os espectadores parem de se importar com qualquer coisa que aconteça em uma história, porque se um escritor demonstra persistentemente que não tem escrúpulos contra ficar inventando quaisquer artifícios e soluções mágicas que bem entenderem, isso pode dissuadir os espectadores de sequer se importarem em permanecer investidos na história. (Por exemplo, se um personagem morre, por que o público deveria acreditar que a morte será permanente? O autor não poderia apenas inventar alguma desculpa para trazê-los de volta da morte mais tarde?)
  • Bata Palmas Se Voce Acredita
  • Coincidencia Demais: Se na Vida Real a coincidência não poderia acontecer de forma crível por algum motivo, tente descobrir "por que" e "como" ela poderia, OU tente descobrir uma explicação no Universo Proprio para isso acontecer que faça sentido consistente. Caso contrário, isso fica bem do ladinho de algo Tirado da Bunda como uma maneira de quebrar imediatamente a Suspensão de Descrença.
  • Conceito: Há algumas ideias em todas as histórias que simplesmente precisam ser aceitas. Por exemplo, se a história é sobre exploradores espaciais indo a Marte para se encontrar com alienígenas, o conceito é que existe vida em Marte.
  • Doninha Necessaria: Quando o público sabe que o tropo é improvável/impossível/irrealista, mas está disposto a aceitá-lo porque acabou se tornando parte do gênero. Claro, Viagem Mais Rapida Que A Luz é impossível, mas se isso significa que uma Opera Espacial pode nos levar a algumas partes criativamente interessantes do universo mais rápido do que esperar vários milhares de anos, estamos dispostos a engolir seco e seguir com o fluxo.
  • O Efeito Coco: O público já está mais acostumado com a versão irrealista dessa coisa, então incluir a versão real só vai acabar confundindo-os. Goste ou não, seria melhor não seguir a rota "historicamente correta" e apenas ficar com aquilo que o público conhece.
  • Escritores De Sci Fi Nao Tem Senso De Escala: No mundo do gênero de ficção científica, as coisas tendem a ser convenientemente grandes ou convenientemente menores do que são na realidade para tentar manter a suspensão da descrença. Um subtropo particularmente comum disso é o Asteroid Thicket, uma coleção densa de asteroides extremamente próximos que de alguma forma não estão se fundindo, apesar do fato de que nesse tipo de proximidade eles estariam a caminho de formar um novo planeta na vida real.
  • Hipotese Do Agente Literario
  • Ima De Esquisitice: Uma das maneiras de explicar coincidências estranhas é só afirmar que os protagonistas precisam lidar com coisas estranhas "o tempo todo".
  • Lançando Luz: Se os personagens também concordarem que algo não faz sentido, o público ficará mais tranquilo.
  • Licença Artística: Como dito acima, às vezes a representação fiel e correta de algo não funcionaria para a história de algum modo (por exemplo, em um Show Policial, ver todos cuidando da papelada e comendo e bebendo café 90% do tempo provavelmente aborreceria o público, o qual está ali para ver drama e ação). Geralmente não quebra a Suspensão Voluntária da Descrença, a menos que o seguinte se aplique:
    • A Licença Artística é tão imprecisa e chocante que sequer faz sentido nem mesmo na versão embelezada do campo (por exemplo, um policial no referido Show Policial fazendo um "teste de detecção" de DNA direto no local do crime, com resultado instantâneo.)
    • A Licença Artística é internamente inconsistente (por exemplo, os policiais estabelecidos no referido Show Policial, apesar de ser sobre ação muito além do limite, não podem usar uma bazuca em cada mão, pois são seres humanos de força comum ... e então, de repente, todos estão usando 2 bazucas simultaneamente e os policiais estão no nível de marinheiros espaciais.)
  • Magia X é Magia X: Se você quer fazer o público acreditar no impossível, você deve tornar consistente as iterações dessa impossibilidade. Por exemplo, se for estabelecido que um mago só pode invocar seres mais fracos do que ele, e então um mago novato invocar uma Abominação Sobrenatural completa, você pode acabar precisando dar Só Uma Pincelada no assunto ou estabelecer previamente que eles poderiam de algum jeito conseguir fazer isso.
  • Negabilidade Plausivel
  • Nossa Que Incientifico
  • Pos Modernismo: O pós-modernismo é, por sua própria natureza, violador da quarta parede, uma vez que a característica definidora da arte pós-moderna é sua tendência a questionar a própria natureza do meio através do qual está sendo apresentada e comentar sobre a natureza de obras artísticas semelhantes que lhe precedem. Se você deseja contar uma história imersiva com uma narrativa envolvente, incorporar elementos pós-modernos pode não ser a coisa mais sábia a se fazer.
  • Princípio Antrópico: Praticamente toda história tem alguns elementos fundamentais que, por mais irreais ou improváveis que sejam, são vitais para que a história funcione em primeiro lugar. Então, goste deles ou não, você realmente não tem escolha a não ser engolir e aceitá-los se você realmente quer curtir a história. Claro, pode parecer improvável que o Grande Detetive coincidentemente estava por perto para resolver o assassinato incrivelmente bizantino que alguém cometeu por perto, mas se ele ou ela não estivesse lá, você não seria capaz de assistir ele ou ela resolver o mistério em primeiro lugar.
  • Quarta Parede/Nada De Quarta Parede
  • Quebras Aceitáveis da Realidade: Às vezes, o realismo absoluto pode tornar um trabalho ou história entediante, repugnante, totalmente impossível ou simplesmente não-funcional. Romper com a realidade nesses casos, desde que não seja um caso Tirado da Bunda e seja internamente consistente, realmente torna sua história melhor.
  • Realidade É Irrealista: As pessoas esperam que a ficção siga certas convenções e padrões; A Vida Real não tem tais restrições.
  • Roleta De Gambitos
  • Segregacao De Historia E Jogabilidade
  • Tirado da Bunda: A pior maneira que você pode quebrar a Suspensão Voluntária da Descrença. Alguns subtropos disso quebrarão com ela quase 100% do tempo, especificamente Deus ex Machina e Diabolus Ex Machina. Geralmente, esse tropo e seus subtropos precisam ser abordados com cuidado e manuseados com maestria em qualquer forma de mídia em que apareçam, para evitar que o público saia de sua suspensão.
  • Traidoras Imagens

Alternative Title(s): Willing Suspension Of Disbelief, Suspensao Voluntaria De Descrenca

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